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Mostrando postagens de 2010

Do vazio

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Aquele olhar perdido dele, sempre me deixou inquieta. Ficava ali, oras a fio, estático, intacto. Feito estátua, observava sem pressa a despedida do sol no fim de um dia de verão. Segurava firme a cuia de chimarrão e compassadamente engolia seco, goles de mate quente sem nada dizer. Aquilo me incomodava. Não sabia se era tranquilidade demais ou se era dor. Eu, ainda nova demais para entender os desassossegos da vida, achava apenas que era cansaço. Depois que ele partiu, fui entender o real significado da palavra "vazio". Esses dias atrás, me surpreendi quando me perguntaram o porquê do meu olhar passivo, perdido...vagando no horizonte. Respondi que era apenas o cansaço do dia-a-dia. Mas no fundo, eu sabia. Estranhamente, havia herdado dele aquele vazio inquieto que o silêncio preenchia.

Da felicidade instantânea de uma Segunda-Feira tediosa

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Em meio à uma desanimadora segunda-feira, cheia de pendências e ocorrências atrasadas, recebi um telefonema. Era minha mãe avisando que não teria almoço em casa. Ou seja, nada de aproveitar o horário de almoço para tirar uma soneca em casa. Dinheiro nenhum paga o prazer de dormir alguns minutinhos depois do almoço. Quando estou mais disposta até encaro o desafio de fazer o almoço, tirar uma soneca e tomar banho em menos de duas horas. Mas hoje, meu nome era preguiça e indisposição. Depois de um final de semana agitado, estava um caco. Minha gastrite resolveu dar sinal de vida, e o mal-estar me acompanha há mais de 3 dias. A dor que corroia por dentro, me curvava o corpo. E tudo o que eu queria era ficar ali, estática, deitada no silencio de um quarto escuro. Mas, no horário de almoço tive que enfrentar um shopping, um sapato apertado e uma dor de estomago infernal. Fugindo dos fast foods , juro que me esforcei em procurar algum estabelecimento que servisse caldos e sopas. Esforço este

De não saber o amanhã

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Me entusiasmo com o não saber. Não saber o que vem depois da curva, não saber se o dia vai ser chuvoso ou ensolarado, não saber as previsões para o ano que chega devagar. Enfim, não saber o dia de amanhã. Às vezes a gente precisa dar um basta nessa certeza perturbadora. Quando se sabe demais das coisas, não existem surpresas. E eu acho que é esse "não saber" que faz a vida ser interessante. Até dois anos atrás eu "sabia" exatamente que rumo tomaria a minha vida. Jamais passaria pela minha cabeça a possibilidade de mudar de cidade, abandonar certos vícios e medos, enfrentar perdas lamentáveis e até mesmo, encontrar o verdadeiro amor escondido numa antiga amizade. Ah o amor!!!...essa raposa! Quanto mais se corre atrás, mais distante se está. Mas quando menos se espera, lá esta ele, de mansinho conquistando seu lugar em nossas vidas. Quantos acontecimentos inesperados em um pequeno intervalo de tempo!Quantas surpresas! Algumas não muito boas, mas elas tiveram um papel

Long as I can see the light

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Sempre gostei muito das músicas do Creedence Clearwater Revival, elas embalaram grandes momentos da minha vida. No último final de semana estive em Curitiba para prestigiar a apresentação do grupo Creedence Clearwater Revisited, que conta com dois integrantes originais do Creedence Clearwater Revival, Stu Cook e Doug Cosmo. O show foi fenomenal, e esta música em especial, foi tema de um dos momentos mais mágicos da minha vida. Long as I can see the Light (Creedence Clearwater Revival) Put a candle in the window, 'Cause I feel I've got to move. Though I'm going, going, I'll be coming home soon, Long as I can see the light. Pack my bag and let's get moving, 'Cause I'm bound to drift a while. When I'm gone, gone, you don't have to worry long, Long as I can see the light. Guess I've got that old trav'lin' bone, 'Cause this feeling won't leave me alone. But I won't, won't be losing my way, no, no 'Long as I can see the lig

O quadro

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Na minha infância, não me lembro de nada mais intrigante do que aquele quadro pendurado no centro da sala vazia. Era um quadro que me hipnotizava por horas e horas. Toda vez que cruzava a sala, ele me pedia silenciosamente uma segunda olhada. E eu ficava alí, inquieta frente à ele. Lembro me claramente, era uma imagem de uma janela enorme com grades brancas e o vidro desta refletia um jardim incrível, indescritível. Cores de todas as tonalidades coloriam delicadamente cada flor. E eu que sempre tive a estranha mania de ficar contando as coisas, perdi as contas do número de árvores que haviam naquele jardim. Era um convite tentador. Por várias vezes me peguei com o olhar perdido naquele quadro, tentando imaginar como seria a sensação de correr por aquele jardim imenso sem ter hora pra voltar. Sentir o perfume de cada uma das flores e poder me deitar à sombra da minha árvore preferida quando estivesse cansada (sim, eu já tinha até escolhido a minha árvore favorita !!) Quando criança, li

Azeites Aromaticos

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Sabe aquele dia que você acorda inspirado pra inventar sabores diferentes e se arriscar na cozinha preparando as combinações mais exóticas possíveis? Então, estava em casa sem fazer nada quando me deparei com um vidro de azeite novinho. E logo me lembrei de um azeite fenomenal que é servido em uma pizzaria que sempre frequento, temperado com ervas, alho, pimenta e demais condimentos. Aí inventei de fazer o tal azeite aromático, mas nem me dei o trabalho de consultar receita nenhuma. Fui logo, colocando uma pitada de pimenta calabresa, alguns dentes de alho e chimichurri em pó (amo). Depois de colocar tudo isso em um vidro, completei com azeite virgem e pronto. Achei que ficou meio forte de pimenta, mas até que deu para o gasto. Bom, enfim...to postando uma receita que achei na net, vou testá-la no próximo final de semana. Confira! Ingredientes 5 ramos de manjericão 1 galho de alecrim 150 ml de azeite extravirgem 2 dentes de alho frescos 3 ramos de tomilho Modo de Preparo Col

Sobre amor, loucura e razão.

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Hoje me peguei lendo alguns poemas que encontrei no blog de um amigo distante. E enquanto eu lia, um sentimento adormecido amordaçava meu silêncio. Me coloquei, por alguns minutos, no lugar daquele personagem apaixonado. Como seria perder noites afins? Perder a cabeça? Sentir na essência, a intensidade da ausência que o grande amor faz. Há tempos tenho ensaiado para escrever um texto sobre esse sentimento nobre, que aflora nos corações apaixonados. Amor?? Paixão ?? Sabiamente definiu Camões "fogo que arde sem se ver, ferida que dói e não se sente". Incrível, não sai uma única palavra, apenas pontos. Ora pontos de interrogação, ora...reticências. Não me sinto mais metade da perfeita simetria. Me sinto completa, inteira. E diante disso, sinto um alívio, imediato. Afinal quando se é metade, quase não se há razão no que se faz. Mas, por outro lado, as vezes também sinto falta de perder a razão, tirar os pés do chão, de gritar para o mundo "Eu te amo!" e de fazer promes

Das escolhas que deixamos de fazer

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Esses dias atrás estava eu pensando sobre algumas limitações que acabamos impondo inconscientemente em nossas vidas. Eu mesmo, por exemplo, as vezes chego a ser insuportável devido aos vários "eu não vou", "eu não quero", "eu não faço" e "eu não gosto". A primeira vista pode até parecer birra, mas na verdade acho que o desconhecido as vezes me assusta. Quando estou disposta, até ouso a me aventurar por novos caminhos, mas na grande maioria das vezes fico estática diante de certos obstáculos. E no desenrolar desse insight que tive, comecei a pensar nas escolhas que fazemos, que na grande maioria das vezes, acabam resultando em certas limitações. Certa vez me perguntei o porquê de escolher sempre o mesmo prato no restaurante chinês, sempre o mesmo lanche no McDonalds, sempre o mesmo caminho de volta para casa, sempre a mesma garagem no estacionamento do serviço e dentre outras enumeras escolhas previamente definidas. Pode parecer escolhas irrelevan

Running with Wolves

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Tenho vagado pelos cantos empoeirados no silencio da madrugada. Perdida e cansada, me deixo guiar pelo meu instinto aguçado. Entre sombras e pegadas, percorro cuidadosamente trilhas desconhecidas. Por não saber a hora de mostrar os dentes afiados, sigo atenta. Sempre alerta. Sempre pronta a defender meus princípios, valores e meus amores. Tenho sentido falta do vento bagunçar meus cabelos, do olhar perdido no horizonte que tranquiliza a mente aflita. Tenho sentido falta da lua e do desejo de uivar minhas angústias e algumas verdades. Sinto falta da chuva, da voz rouca dos trovões, que alimentam a minha alma. Vez ou outra, sacudo os ossos para tirar a poeira do dia a dia, que se acomoda sem que a gente perceba, e que aos poucos, cobre cicatrizes e feridas. Afinal, se estão gravadas em nossa pele ou em nossa alma, por algum motivo devem ser lembradas. E por vagar inquieta, aprendi a enxergar na escuridão e não temer à tempestades. Embora, há dias em que o cansaço sobrecarregue os ombros,

A despedida

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Dedico esta canção para um amigo que partiu,...cedo demais. (...) Vai com os anjos Vai em paz Era assim todo dia de tarde A descoberta da amizade Até a próxima vez... É tão estranho Os bons morrem antes Me lembro de você E de tanta gente que se foi Cedo demais! E cedo demais... Eu aprendi a ter Tudo o que sempre quis Só não aprendi a perder E eu que tive um começo feliz... Do resto não sei dizer Lembro das tardes que passamos juntos Não é sempre mais eu sei Que você está bem agora Só que neste mundo O verão acabou. Cedo demais!
"É inverno no inferno e nevam brasas" cof...cof...tentando sobreviver no meio de tanta fumaça... =/
"A suspeita sempre persegue a consciência culpada; o ladrão vê em cada sombra um policial." ( William Shakespeare)

Bad Dreams

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Não teve ovelhinhas o bastante para eu contar ontem, antes de dormir. Lembro de ter contado umas 400 ... e tô aqui, puro um zumbi. Péssima noite. =/

Sapatos Vermelhos

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Enquanto efetuava o pagamento do meu mais novo par de sapatos vermelhos (sim, eu adoro vermelho) lembrei disso: "Existe uma história ilustrativa contada por velhas a respeito das aflições da mulher esfaimada e braba. Ela é conhecida pelos títulos diversos de "As sapatilhas do Diabo", "Os sapatos ardentes do Diabo" e "Os sapatinhos vermelhos". Hans Christian Andersen escreveu um conto de fadas baseado nessa antiga história, dando-lhe este último título. Como um verdadeiro contador de histórias, ele envolveu o enredo básico com uma boa parte da sua própria inteligência e sensibilidade étnica, mas o esqueleto da história é o mesmo. Segue-se uma versão germânico-magiar que minha tia Tereza costumava nos contar quando éramos crianças. Na sua versão da história, ela sempre começava dizendo: "Olhem para seus sapatos e agradeçam por eles serem sem graça... porque é preciso que se viva com muito cuidado quando os sapatos são vermelhos demais.&

O riso

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Os carros entupiam as ruas, o sinal estava fechado, não se via e não se ouvia nada. Só a pesada fumaça do mês de Agosto e as estridentes buzinas dos carros. Mas ela ria de algo que eu não entendia. Sentada frente ao volante do carro, gargalhava sozinha para a vida ou para ela mesma, vai saber. Era uma alegria incontida, daquelas que faz a gente parecer louca, quando observada de longe. Ela ria com todos os dentes, ria de chorar, ria como se ninguem estivesse vendo. Era um riso de liberdade. Parecia ter descoberto algo que há tempos estava alí, guardado. Era ela, que se descobria.

O abismo

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"E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti" Friedrich Nietzsche

Vida

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Não sei… Se a vida é curta Ou longa demais pra nós, Mas sei que nada do que vivemos Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: Colo que acolhe, Braço que envolve, Palavra que conforta, Silêncio que respeita, Alegria que contagia, Lágrima que corre, Olhar que acaricia, Desejo que sacia, Amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, É o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela Não seja nem curta, Nem longa demais, Mas que seja intensa, Verdadeira, pura… Enquanto durar” ( Cora Coralina )

CÓDIGO de ÉTICA dos ÍNDIOS Norte-Americanos

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Levante-se com o Sol para orar. Ore sozinho. Ore com freqüência. O GRANDE ESPÍRITO o escutará, se você ao menos, falar! Seja TOLERANTE com aqueles que estão perdidos no caminho. A ignorância, o convencimento, a raiva, o ciúme e a avareza, originam-se de uma alma perdida. Ore para que eles reencontrem o caminho do Grande Espírito. Procure conhecer-se, por si mesmo. Não permita que outros façam seu caminho por você. É sua estrada, e somente sua! Outros podem andar ao seu lado, mas ninguém pode andar por você! Trate os convidados em seu lar com muita consideração. Sirva-os com o melhor alimento, a melhor cama e trate-os com respeito e honra. Não tome o que não é seu. Seja de uma pessoa, da comunidade, da natureza, ou da cultura. Se não lhe foi dado, não é seu! Respeite todas as coisas que foram colocadas sobre a Terra. Sejam elas pessoas, plantas ou animais. RESPEITE os pensamentos, desejos e palavras das pessoas. Nunca interrompa os outros nem os ridicularize, nem rudemente os

Clouds & Binary

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Segue tua senda de vitórias

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Uma foto, vale mais que mil palavras.

The Dark Side

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Nunca me questionei tanto quanto a origem da maldade nas atitudes das pessoas. Afinal, nada mais humano que a maldade. Só o homem, entre todos os animais, é capaz de torturar, humilhar e matar, para além do instinto de sobrevivência.O que leva uma pessoa a agir de forma agressiva diante de certas situações? O que a incentiva a ser cruel? Ausência de caráter, prazer, instinto, revolta, destino ou livre arbítrio? Foi diante deste questionamento que tentei avaliar um trágico caso. Claro que eu não tinha escalas definidas para tal ato, assim como é feito no programa da Discovery - "Índice da Maldade", mas tentei analisar cada detalhe relevante. A estória, objeto de meu inquieto estudo, aconteceu quando ela tinha mais ou menos uns 11 anos de idade. Todos que a conhecem, sabem o quanto ela é apaixonada por felinos. Essas criaturas realmente a encantam. Aconteceu que, certo dia o gato dela, um siamês curioso e demais de brincalhão, resolveu adentrar o terreno da vizinha. Lá se depar

Drinks

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Já que estamos em ritmo de final de semana, vamos de Bloody Mary - o meu preferido! Ingredientes: Sal Pimenta-do-reino Cubos de gelo 1 dose de vodka 1 colher (chá) de suco de limão 4 gotas de tabasco 1 colher (café) de molho inglês 250 ml de suco de tomates Talo de salsão (para decorar) Modo de Preparo: Misturar todos os ingredientes e despejar num copo tipo short drink . Colocar gelo a gosto e, se quiser, decorar com uma fatia de limão. Pra quem se animou a fazer, vale a pena conferir: http://www.youtube.com/watch?v=q6qMfxMc6iI

O elo

Esses dias, me peguei com cara de origami pensando longe. Longe mesmo, coisa de 12 anos atrás. A festa continuava, pessoas transitavam de um lado para outro, a musica tocava, e eu ali, fazendo uma força danada para disfarçar a minha inusitada ausencia temporaria. E quanta coisa eu descobri durante aqueles preciosos minutos em que fiquei estática, feito um dois de paus perdido entre meus pensamentos nebulosos de lembranças distorcidas. Era como se pudesse dar vida à aquela velha fotografia que eu tinha guardada até pouco tempo. Pensei...recordei...analisei. Mas não encontrei nenhum motivo que me fizesse ligar os fatos. O elo continua perdido e eu continuo sem explicação.

O peso de ser

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Ultimamente tenho me sentido demasiada cansada para ser. Para ser uma pessoa melhor, nunca me faltou vontade, mas quando vou ver já se passaram das 20:00, a pilha de roupa suja ainda me espera, os livros que eu queria ler ainda permanecem intocados, esquecidos em um canto qualquer, e agora já esta tarde demais para fazer a caminhada do dia, para regar cuidadosamente as flores na sacada, para brincar com o gato que incansavelmente me rodeia. O sono me consome. Assim, vou adiando - não sei até quando - a tarefa de ser. Ser uma pessoa mais amiga, que no fim do dia ainda tem animo para contar um fato engraçado que aconteceu, ou para escutar sem amarras a história dos outros. Ser uma pessoa mais alegre, sem ficar resmungando pelos cantos o cansaço que lhe sobrecarrega ou a dor que lhe deixa indisposta. Ser uma pessoa mais saudável, que mesmo exausta, ao chegar em casa, procura pelo tênis e pelo mp3 player, e vai correr ou apenas andar sem rumo. Ser alguém mais disposto, se animar em fazer u

Solidão

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Da arte de ser

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Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem acabei. De tanto ser, só tenho alma. Quem tem alma não tem calma. Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é, Atento ao que sou e vejo, Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. Sou minha própria paisagem; Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou. Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser. O que sogue não prevendo, O que passou a esquecer. Noto à margem do que li O que julguei que senti. Releio e digo : 'Fui eu ?' Deus sabe, porque o escreveu. (Fernando Pessoa)

Não me interessa...

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Encontrei esse texto na minha caixa de emails, não sei quem é o autor ...mas acho tudo isso muito verdadeiro. Não me interessa o que você faz para viver. Quero saber o que você deseja ardentemente, e se você se atreve a sonhar em encontrar os desejos do seu coração. Não me interessa quantos anos você tem. Quero saber se você se arriscaria a aparentar que é um tolo por amor, por seus sonhos, pela aventura de estar vivo. Não me interessa quais os planetas que estão em quadratura com a sua lua. Quero saber se você tocou o centro de sua própria tristeza, se você se tornou mais aberto por causa das traições da vida, ou se tornou murcho e fechado por medo das futuras mágoas. Quero saber se você pode sentar-se com a dor, minha ou sua, sem se mexer para escondê-la, tentar diminuí-la ou tratá-la. Quero saber se você pode conviver com a alegria, minha ou sua, se você pode dançar loucamente e deixar que o êxtase tome conta de você dos pés à cabeça, sem a cautela de ser cuidadoso, de ser reali

Lembranças

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Sempre que me pego escutando as músicas do finado Cenair Maicá, lembro dos dias de domingo em que a gente acordava mais cedo e já ia ajeitando os espetos, o fogo e a erva para o chimarrão. Desde guria, lembro de acordar ao som de "Balseiros do Rio Uruguai", era o velho Maicá que cedito já cantarolava a tradição missioneira pelos quatro cantos da casa. Enquanto isso, minha mãe preparava uma maionese caseira bem caprichada, e eu que sempre me diverti na cozinha, temperava com gosto um peça de costela bem gorda, escolhida a dedo pelo meu pai. O mate amargo já passeava de mão em mão, um chimarrão bem feito - companheirito de longas conversas e boas risadas. E da churrasqueira velha e engraxada, crescia um fogo que de longe ardia, arte do meu irmão mais velho, que entre um trago e outro, de relancina cuidava faceiro o braseiro. No meio do pátio, minha vó armava o carteado, e entre uma jogada e outra, a canastra limpa se fazia. E ai de quem discordasse da velha, afinal coringão lim

Nada vai nos separar

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O futebol, de alguma forma muito especial, sempre fez parte da minha vida. Na escola, lembro dos campeonatos que eram promovidos. Um dos eventos mais esperados do ano, e eu... jogando ou não, sempre estava presente. Era a mais baixinha do time, mas era também a mais ligeira. Com a bola no pé, eu ia longe. Gritava o jogo inteiro e não aceitava perder. Se entrava em campo, era pra ganhar. Esse lema de que o importante é participar, nunca me convenceu. E acho até que foi por causa desse meu jeito meio radical, que me escolheram capitã do time. Nas finais decisivas, eram poucas as vezes que eu não estava envolvida em discussão com o time adversário...rs, infelizmente eu tinha aquele "quê" D'Alessandro de ser. (se é que vocês me entendem) D'Alessandro e seu temperamento explosivo Nunca vou esquecer o dia em que fui com meu pai numa loja do centro comprar uma chuteira nova. Olhei por horas, todos os detalhes de uma boa chuteira. Mas, como a grana era curta...escolhi a que e

A gata do 702

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Já faz um tempo que minha mãe havia me prometido um texto sobre a Pepa (nossa gata persa e minha dose diária de alegria). Eis que hoje, recebo por email esse conto encantador. ^^ A disciplina mental que temos que enfrentar para cumprir com êxito os prazos de leituras para estudos, algumas vezes, faz com que percebamos estranhos rituais de quem conosco convive. Morgana, este era inicialmente o nome escolhido. Chegou ao nosso apartamento numa manhã cheia de sol, trazida pela minha filha que com os olhos marejados de alegria a abraçava. Já fazia muito tempo que esta raça era por ela, muito desejada, mas como filha de professora sabia que estava muito além das condições financeiras de sua mãe. Ela chegou como presente de um querido amigo. Já adentrou na sala com ares de princesa, deitada em uma linda caminha azul. Junto vieram pentinhos, perfumes, brinquedinhos e shampoos. Pensamos muito, discutimos e finalmente em família houve um tácito consenso acerca da escolha. Ainda ho

Dos perdidos, achados

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A rotina daquele emprego era cansativa. Isso era fato. Guardar milhares de livros em seus devidos lugares todos os dias parece ser uma tarefa monotonamente exaustiva. Mas, cá entre nós, foi naquele lugar, durante o corriqueiro vai-e-vem entre uma estante e outra que eu tive a oportunidade de descobrir grandes tesouros. Me lembro até hoje. Final de semestre, dia de prova. Aquela biblioteca era mais visitada que o bar da faculdade. Os alunos corriam desesperados de um lado para outro atrás de material pra consulta e inquietos lotavam a fila de empréstimo. Como já havia arrumado todos aqueles livros por n vezes aquele dia, resolvi me dar o luxo de 10 min. de descanso, me escondi no corredor de livros de Literatura (onde você encontrava de tudo um pouco, desde Shakespeare até o Kama Sutra ilustrado) . Ironicamente, era o menos visitado da Biblioteca. Assim, além de ser um esconderijo perfeito, eu podia matar o tédio folhando alguns livros. E na esperança de encontrar algo que me distraísse

Da necessidade de falar

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Nada me perturba mais do que o eco que o silêncio faz quando mil palavras estão engatilhadas. Porque há o direito a fala...eu falo, grito e esperneio! hunf.

All one

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Cansada da rotina que se estendia, chegou a sua casa mais tarde que o normal, e mais do que depressa procurou pela lista que cuidadosamente escondia embaixo da caixa de bijuterias. Serviu um copo de vinho seco, e se pôs a pensar na vida. Anotou como de costume, uma ou mais recomendações, riscou alguns itens e escreveu planos absurdos, detalhadamente. Diante de todas aquelas letras, pontos e alguns rabiscos, aquela eterna incompletude parecia não ter sentido. Guardou a preciosa lista no bolso da calça jeans, e satisfeita por ter cumprido a tarefa do dia, ficou ali por alguns minutos a contemplar a solidão da noite fria que caia. E como já dizia Clarice: "E, se atravessara o amor e o seu inferno, penteava-se agora diante do espelho, por um instante sem nenhum mundo no coração. Antes de se deitar, como se apagasse uma vela, soprou a pequena flama do dia."

Partir...

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Dos dias que se passaram sem contar, ficou apenas o imenso vazio na alma. Uma dor que o tempo não se encarregou de carregar. Certa vez me perguntaram quanto tempo durou para que eu pudesse me conformar com tal perda, como se a vida nos permitisse definir prazos de validade para esses sentimentos que seguem eternamente inquietos. A vida tende a seguir seu ciclo natural com o passar do tempo, mas o que fazer com as palavras que não foram ditas, com os planos que foram desfeitos pelo destino incerto, com as lágrimas que insistem em verter quando lembro de ti? Sim...fica a saudade e a dor de um silêncio que nada preenche. "Partir não é só dizer adeus e ir embora. É, preciso fazer as malas, consolar quem chora. Se não bastar e houver demora Não te desespere ou saia por aí à fora. De tempo ao tempo, agradeça a Deus E espere a hora"