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Quando as luzes se apagam

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Quando as luzes se apagam Noite, quarto escuro. O estalar dos móveis ao meu redor quebrava o silencio noturno, mas não chegava nem perto do barulho perturbador dos pensamentos obsessivos que se contorciam inquietos dentro de mim. Tomavam formas desproporcionais e, pouco a pouco, davam vida a uma realidade agonizante que só existia ali dentro. Era como estar presa por entre grades que só eu podia enxergar. E como é real! Perdi a conta das noites em que passei ali, remoendo medos absurdos e angústias de fazer o peito palpitar. A ansiedade aumentava quando, ao olhar para o relógio, me dava conta de que faltavam poucas horas pra "acordar" e ir trabalhar. Desesperada, tentava de tudo: meditação, mantra, carneirinho pulando cerca. Nada funcionava. Continuava presa no meu próprio inferno mental.  O dia amanhecia, e eu seguia com a rotina da vida, exausta e acabada em olheiras. Era hora de sair da prisão e seguir adiante, esconder o cansaço com camadas ex

Meu amigo Pedro

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Quando ele subia a rua de casa, com seus passos longos e apressados, mal sabia ele que eu estava a espia-lo por entre as grades da janela daquele casarão antigo.Era um encontro pontual. Eu esperava ansiosa ele passar, para então, acompanhar anônima seus passos até a nossa escola.  Ele alto, cabelo sem corte, com um certo vazio no olhar. Era o garoto com sua mochila verde a subir pontualmente a rua Zulmira Canavarros. Eu tinha recém me mudado para aquela casa na esquina do cemitério que ficava a uma quadra da escola, e odiava o fato de ter que passar pelo cemitério sozinha. Não conhecia ninguém, então ficava esperando ele passar, para segui-lo até a escola. Ele ia à frente, e eu atrás, me esforçando para passar despercebida. Logo descobri que ele era da minha sala. Não conversávamos muito na escola, mas compartilhávamos o mesmo tédio da adolescência. Aquela rotina chata de acordar cedo, estudar, aceitar as regras dos pais, sofrer com a pressão do vestibular, com as mudanças