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Mostrando postagens de 2012

De coração, guerra e escolhas

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Há quanto tempo eu não passava por aqui ? Foi bom reler todos os textos e ver quanta coisa mudou. De fato foram muitas mudanças mesmo. Deixei pra trás a confortável casa e cidade que sempre me acolheu. Me despedi dos poucos,  porém fiéis amigos: companheiros de bar e de guerra. Em um abraço já cheio de saudades, me vi afastando-se pouco à pouco da irmã querida,  que foi colo durante minhas crises intermináveis, e riso solto nas madrugadas regadas à muita cerveja e rock`n`roll. Era preciso ser forte, mas além disso era preciso ter fé. Fé em mim mesma. E eu já não sabia quem eu era. Se era o vazio dos dias que me arrastavam pra longe de mim,  ou se era, um pequeno fagulho de paixão que ainda ardia no peito. Empunhei a espada, e é com a mão ainda trêmula que rasgo todos os dias a selva de pedra de uma cidade desconhecida. No findar do dia, mais um leão morto sem piedade. É tempo de guerra. E como em todas as guerras, é necessário saber equilibrar o ânimo, a

Das felicidades repentinas

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Eu não sabia o que era felicidade. Sempre pensei que quando se é feliz, o céu mudaria de cor, o sorriso ficaria estampado no rosto em cenas slow motion enquanto bolinhas de sabão multicoloridas flutuariam ao redor das pessoas ao som de Here Comes the Sun dos Beatles . O conceito de felicidade tem se tornado tão surreal, que grande parte das pessoas não reconhecem que naqu ela pequena fração de tempo, foi-se feliz. Hoje eu sei que a felicidade não tem nada a vê com circunstâncias grandiosas e arrebatadoras. Ela vibra na frequencia das coisas mais simples, feita de pequenos momentos eternos. Ontem eu estava distraída, cozinhando ao som de Neil Young, entre um gole e outro de vinho seco, tentava me cuidar para não salgar demais o molho, coisa que eu sempre faço. Da varanda dava pra ver a chuva cair mansa lá fora e o vento invadia a sala espalhando pelo ar um aroma carregado de temperos.  Enquanto você me ajudava cortando cuidadosamente a cebola em pedaços milimetric

Believe

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 Não era medo. Diante do mar e toda a sua majestade, me curvei. Enterrei os pés na areia, na necessidade de firmar-se, de sentir-se parte de algo. Era uma carência recente, ainda aberta no peito. Olhava para os lados, na expectativa de encontrar um olhar conhecido, um andar para acompanhar, ou algum "oi-quanto-tempo?!!" solto ao vento. Mas não. Nada ali me fazia lembrar a pessoa que eu tinha sido, nesses últimos anos. A mesma insegurança boba de sempre, de sentir-se deslocada toda vez que o destino me arrancava o chão. Fiquei me debatendo feito peixe fora d'água diante daquele novo palco, sem roteiros. Era uma vida nova, repleta de desafios e novas oportunidades. Era tempo de cuidar de mim. Eu que sempre cronometrei as horas do dia, na inútil expectativa de dar conta de tudo, não sabia ainda o que era ter 24 horas do dia só pra mim. Dolce far niente .  Deixei para trás os amigos, o emprego, o carro e a minha velha rotina de correr contra o tempo. Restava no pei

Attraversiamo

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"E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa. Quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem sentido. " (Haruki Murakami)

...the same old story...

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Então que hoje eu acordei meio "Pálpebras de Neblina", como no inicio deste conto do Caio Fernando (porque só ele tem o dom de acalmar minhas tempestades repentinas). "Fim de tarde. Dia banal, terça, quarta-feira. Eu estava me sentindo muito triste. Você pode dizer que isso tem sido frequente demais. Tristeza-garoa, fininha, cortante, persistente, com alguns relâmpagos de catástrofe futura. Projeções: e amanhã, e depois? e trabalho, amor, moradia? o que vai acontecer? Típico pensamento-nada-a-ver: sossega, o que vai acontecer acontecerá. Relaxa, baby, e flui: barquinho na correnteza. Deus dará. Essas coisas meio piegas, meio burras, eu vinha pensando naquele dia." Fiquei ali, estirada na cama. Pedaço de carne intocado, ligeiramente encolhido de frio. Aos pés da cama, minha gata se espreguiçava, uma bola de pelo perdida entre o edredom. Era sempre pra ela, o primeiro sorriso bobo e sincero, mesmo nos dias cinza. Os raios de sol insistiam, teimosos, adentrar o

Dos sapatos que machucam

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Era dia 24 de dezembro e eu procurava inquieta por um par de sapatos em uma loja do centro. A história começa assim. Experimentei todos os possíveis candidatos, escolhidos a dedo - impacientemente. Estava com pressa (novidade?). Afinal, loja lotada e filas quilométricas em véspera natalina não me atraem nenhum pouco. Enfim, voltei contente e até então - satisfeita - para casa com o par de sapatos novos. Depois de alguns passos, percebi que o mesmo, apertava-me ao ponto de ter que andar mancando de dor. Mas por que desfazer de um lindo par de sapatos novinhos que me custaram uma nota preta??? Vai lacear! pensava otimista comigo mesma. E então, desfilava dia e noite com o tal sapato apertado. Isso me rendeu: um dedo sem unha, vários calos horríveis e um machucado no tornozelo. Até aqui tudo isso não passa de uma lamentação, mas hoje pela manhã antes de calçar o maldito sapato (sim, eu sou teimosa!) tive um insight repentino. Sapatos apertados são como amores não correspondidos. É isso aí
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?

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"(...) quem tem, afinal, o poder de salvar o outro de seus próprios abismos?" (Caio Fernando Abreu)

Da ausência

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Enfim descobri o sentido daquela agonia no fim do dia. Esta que entrava sem pedir licença, escancarando a porta da alma e fazendo tempestade onde havia calmaria. Era meu coração implorando baixinho a sua presença. Agitado, te procurava na esquina da padaria, no boteco perto de casa, na cama desarrumada, na musica que tocava dentro do carro, na caixa de emails vazia. E onde mais eu poderia te encontrar, senão, aqui...dentro de mim? A sua ausência - de tão profunda e presente - faz-se dor, e me abraça todas as noites antes de dormir. Se você ficar em silêncio por alguns segundos, ainda pode escutar meu coração te convidando pra fazer qualquer coisa, juntos. Que seja pintar um quadro, tomar banho de chuva, assistir um filme qualquer enquanto disputamos a pipoca. Que seja dividir o edredon na madrugada fria, compartilhar sorrisos bobos e abraços sinceros. Essas coisas simples, que quando fazemos (bem) acompanhados, tem sabor de fruta mordida. Cansei de dividir a rotina dos dias, com a aus
"É sempre assim que acontece – quando a gente se revela, os outros começam a nos desconhecer." (Clarice Lispector – A maça no escuro)

Da ruína

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Todas as manhãs era o mesmo não saber. Ela não sabia quem era aquela pessoa frente ao espelho. Lavou o rosto, fixou os olhos com atenção no reflexo, e mesmo assim enxergava apenas uma imagem embaçada. Sem contornos definidos, sem um sorriso estampado no rosto, sem brilho nos olhos, sem nada que vibrasse dentro do peito: nem desassossego, nem paixão. Aquilo a perturbava, era uma ausência de si mesmo que feria a alma. Se é que ainda existia alma. O vazio havia se alastrado tanto, que ela já não sabia onde começava e muito menos onde terminava aquele denso abismo. E como pesa o vazio! Irônico não? Nada a movia. Nem fé, nem esperança. Nem planos descabidos, nem mesmo sua fértil imaginação a salvava nesses dias. Deixou de lado a caixa de lápis de cor, afinal já não fazia mais diferença pintar um sol (de óculos escuros, sorrindo) no canto do dia. Havia perdido o apetite pela vida, logo ela que devorava com gosto a rotina dos dias. Deixou cair pelo caminho a disposição, o foco, a vontade, a e