...the same old story...

Então que hoje eu acordei meio "Pálpebras de Neblina", como no inicio deste conto do Caio Fernando (porque só ele tem o dom de acalmar minhas tempestades repentinas).

"Fim de tarde. Dia banal, terça, quarta-feira. Eu estava me sentindo muito triste. Você pode dizer que isso tem sido frequente demais. Tristeza-garoa, fininha, cortante, persistente, com alguns relâmpagos de catástrofe futura. Projeções: e amanhã, e depois? e trabalho, amor, moradia? o que vai acontecer? Típico pensamento-nada-a-ver: sossega, o que vai acontecer acontecerá. Relaxa, baby, e flui: barquinho na correnteza. Deus dará. Essas coisas meio piegas, meio burras, eu vinha pensando naquele dia."

Fiquei ali, estirada na cama. Pedaço de carne intocado, ligeiramente encolhido de frio. Aos pés da cama, minha gata se espreguiçava, uma bola de pelo perdida entre o edredom. Era sempre pra ela, o primeiro sorriso bobo e sincero, mesmo nos dias cinza. Os raios de sol insistiam, teimosos, adentrar o breu amanhecido do quarto. Escondi a cabeça embaixo dos travesseiros e me recusei, por alguns segundos, fazer qualquer movimento. Uma tentativa fracassada de esconder-se do sol, do dia, sabe-se lá do que mais. Em silêncio, era possível escutar ela se aproximando. Chegou escancarando a porta do quarto, me devorando ao poucos, dilacerando qualquer fagulha de alma que havia. E no fim, restou sobre a estampa floral do lençol apenas um par de olhos tristes, estáticos e um imenso vazio no peito. Juntei o que sobrou, e na esperança de disfarçar o oco: pintei as unhas de vermelho, vesti o uniforme do serviço, pendurei o crachá no pescoço. Antes de sair, procurei no espelho algum brilho, alguma luz, algum sinal de vida, mas enxergava apenas 50 e poucos quilos de magreza e solidão.




Ao som de: Cat Power - Naked With Want



Fonte (imagem): http://adoce-com-limao.blogspot.com/

Comentários

  1. "A solidão é a distância que você está de si mesmo." Calunga

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  2. A um tempo atrás eu, neste blog mesmo, falei sobre a prisão sem muros, onde vivemos preso a alguém ou algo e mesmo com todo o horizonte a vista não temo a coragem de ir ao encontro dele e deixa para trás a prisão. (covardia?)
    E como todas as prisões existe a solitárias, lugar onde os presos que tentam romper com a ordem são castigados, com a solidão e o vazio.
    Você tem o seu companheiro de fuga, basta você querer e dar o primeiro passo em direção ao horizonte... então você poderá dizer adeus a solitárias...
    rs Las Vegas é um bom lugar para se começar

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