A gata do 702

Já faz um tempo que minha mãe havia me prometido um texto sobre a Pepa (nossa gata persa e minha dose diária de alegria). Eis que hoje, recebo por email esse conto encantador. ^^


A disciplina mental que temos que enfrentar para cumprir com êxito os prazos de leituras para estudos, algumas vezes, faz com que percebamos estranhos rituais de quem conosco convive.


Morgana, este era inicialmente o nome escolhido.
Chegou ao nosso apartamento numa manhã cheia de sol, trazida pela minha filha que com os olhos marejados de alegria a abraçava. Já fazia muito tempo que esta raça era por ela, muito desejada, mas como filha de professora sabia que estava muito além das condições financeiras de sua mãe. Ela chegou como presente de um querido amigo. Já adentrou na sala com ares de princesa, deitada em uma linda caminha azul. Junto vieram pentinhos, perfumes, brinquedinhos e shampoos.


Pensamos muito, discutimos e finalmente em família houve um tácito consenso acerca da escolha. Ainda hoje acho que cansamos de escolher nomes então não houve consenso, mas, cansaço. Por dois ou três dias a chamamos assim, mas, por alguma razão que não sei explicar, aos poucos paramos de chamá-la de Morgana porque percebemos que ela não atendia. Usando o jargão dos jovens “ela tava nem aí”. Talvez a falta de criança em casa, favoreceu outro nome para ela, e este aconteceu, era; bebê, bebezinho, bê...bê. E ela nem “tchum”, como minha filha caçula diz.
A vó que veio passar o fim de semana, vendo aquela fofura disse: - Pêpa! Vem aqui Pêpa! Ninguém entendeu de onde a vó tinha tirado aquele nome, mas, para não decepcioná-la silenciamos. Decidiu-se por “Pêpa” e ela atendendo ou não, foi o nome que ficou. Esta é a nossa gata. Assim é conhecida aqui no Edifício San German “a gata do 702”.

Pêpa é uma persa, malhada, linda e peluda de 2 anos, que passa as manhãs a observar da janela os pombos que fazem ninhos nas estruturas que alojam os aparelhos de ar condicionado do prédio. Incrível a atitude de contemplação deste felino.

Nos momentos que estou estudando e escrevendo a vejo em uma eterna contemplação, ora para as sombras refletidas nas janelas, ora para a luminosidade da tela da televisão e com aquele focinho lindo me encanta.

Tenho passado as manhãs, digitando e a vejo caminhando no apartamento, lentamente a procura da sacada, às vezes com agilidade salta para cima das cadeiras para sentir o vento nos bigodes que mais parecem anteninhas.
Fico imaginando que a Pêpa deve ser um animal incomum porque ela dificilmente mia, é raríssimo vê-la brincar ou mesmo demonstrar afeição por alguém da família. - Gata chata! Gata autista! Diz a filha mais novinha.

Entendemos que a Pêpa não gosta muito de afagos. Parece gostar de carinhos nossos somente quando ela quer e não quando nós queremos. A observação me faz mais atenta. Adoro observá-la quando ela vai até a cozinha e volta e olha-me com aqueles olhos lindos e contemplativos..e olha..e olha, já sei que deve ter formiga no prato de ração. Quando arranha chão perto da lavanderia, deve ser porque as pedrinhas higiênicas não foram limpas. Quando arranha a porta do quarto é porque quer entrar e dormir no quarto das meninas, sei então que é hora de abrir a porta do quarto. Percebo que ela não arranha mais a porta do quarto do menino, acho que já se cansou, porque percebeu que não é bem vinda lá.

Assim ela e eu conversamos entre uma parada e outra nos meus estudos.
Ela agora tenta me despertar às 5:00 horas com aquelas patinhas fofas, bate nas minhas bochechas para abrir a porta do quarto, sei o dia já está nascendo e é hora de me aprontar para a caminhada e que ela precisa comer.

Eu que sempre preferi cachorros por serem mais afetuosos me rendo a ternura silenciosa da Pêpa.



por Miriam Milani

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