A Voz Do Silêncio

Sempre me identifiquei muito com os textos da Martha Medeiros, mas esse em especial é um dos meus favoritos.

A Voz Do Silêncio

Pior do que a voz que cala,
é um silêncio que fala.

Simples, rápido! E quanta força!

Imediatamente me veio à cabeça situações
em que o silêncio me disse verdades terríveis,
pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades.
Um telefone mudo. Um e-mail que não chega.
Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.

Silêncios que falam sobre desinteresse,
esquecimento, recusas.

Quantas coisas são ditas na quietude,
depois de uma discussão.
O perdão não vem, nem um beijo,
nem uma gargalhada
para acabar com o clima de tensão.

Só ele permanece imutável,
o silêncio, a ante-sala do fim.

É mil vezes preferível uma voz que diga coisas
que a gente não quer ouvir,
pois ao menos as palavras que são ditas
indicam uma tentativa de entendimento.

Cordas vocais em funcionamento
articulam argumentos,
expõem suas queixas, jogam limpo.
Já o silêncio arquiteta planos
que não são compartilhados.
Quando nada é dito, nada fica combinado.

Quantas vezes, numa discussão histérica,
ouvimos um dos dois gritar:
"Diz alguma coisa, mas não fica
aí parado me olhando!"

É o silêncio de um, mandando más notícias
para o desespero do outro.

É claro que há muitas situações
em que o silêncio é bem-vindo.
Para um cara que trabalha
com uma britadeira na rua,
o silêncio é um bálsamo.
Para a professora de uma creche,
o silêncio é um presente.
Para os seguranças de um show de rock,
o silêncio é um sonho.

Mesmo no amor,
quando a relação é sólida e madura,
o silêncio a dois não incomoda,
pois é o silêncio da paz.

O único silêncio que perturba,
é aquele que fala.

E fala alto.

É quando ninguém bate à nossa porta,
não há emails na caixa de entrada
não há recados na secretária eletrônica
e mesmo assim, você entende a mensagem

Comentários

  1. ... tem deste silêncio frio que fala (e maltrata), mas há também dos silêncios que tentam se comunicar - e que, quando não encontram a voz, se transformam em palavra escrita, poema em guardanapo de bar, post de blog. ;)

    bjão, guria... ótimo findi pra tí, juízo, e até quarta-feira!!

    ResponderExcluir
  2. Sarah, este silêncio que você nomeia, se espraia muitas vezes, ao nosso lado, corre a nossa frente. É preciso competir com ele, silenciar ainda mais, principalmente as nossas bocas, para tentar capturar aquela voz implodida que tenta fugir de dentro e nós e não consegue porque estamos confusos procurando outras vozes. Eu chamo o silencio que você apresentou no seu texto de espontaneidade que é abortada de nós mesmos todas as manhãs em nome do politicamente correto. É tempo de soltar com alegria as pipas que querem voar e estão presas dentro de todos nós. Que sejamos menos hipócritas e possamos soltar as nossas pipas e cortar com alegria e determinaçao os fios para que voem felizes! Te amo cada dia mais!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Notas sobre ela

Sobre encontros e tempestades

Azeites Aromaticos