A alma feminina

Há um bom tempo, tenho-me entretido muito com um livro que encontrei perdido pelos cantos da sala, escrito por Clarissa Pinkola Estes - Mulheres que correm com os lobos, ainda não terminei de ler, mas já posso ir adiantando que é fantástico.

Através de contos de fadas, mitos e histórias, o livro proporciona uma compreensão que aguça nosso olhar para que possamos identificar e escolher o caminho deixado pela natureza selvagem. É uma proposta de resgate do que existe de natural dentro da mulher, fala sobre a natureza desconhecida, incompreendida, desvalorizada e por muitas vezes confundida com diagnósticos comuns e que acabam tornando-se corriqueiros, rotulando e criando dependências clínicas e/ou medicamentosas.

O livro propõe a busca desta mulher selvagem dentro de cada uma de nós, a mulher saudável, que possuem características psíquicas comuns: “Uma mulher saudável assemelha-se muito a um lobo; robusta, plena, com grande força vital, que dá a vida, que tem consciência do seu território, engenhosa, leal, que gosta de perambular. Entretanto, a separação da natureza selvagem faz com que a personalidade da mulher se torne mesquinha, parca, fantasmagórica, espectral. Não fomos feitas para ser franzinas, de cabelos frágeis, incapazes de saltar, de perseguir, de parir, de criar uma vida. Quando as vidas das mulheres estão em estase, tédio, já está na hora de a mulher selvática aflorar. Quando as mulheres reafirmam seu relacionamento com a natureza selvagem elas recebem o dom de dispor de uma observadora interna permanente, uma sábia, uma visionária, um oráculo, uma inspiradora, uma intuitiva, uma criadora, uma inventora e uma ouvinte que guia, sugere e estimula uma vida vibrante nos mundos interior e exterior.”

Ainda na Introdução, são descritos alguns sintomas que surgem quando interrompemos nosso relacionamento com a força selvagem da psique: “Sensação de aridez, fadiga, fragilidade, depressão, confusão, de sentir-se amordaçada, calada à força, desistimulada, sentir-se assustada com muita frequência, deficiente ou fraca diante das situações cotidianas, falta de inspiração, de ânimo, sentir-se sem expressão, sem significado, envergonhada, fúria crônica, instabilidade de humor, amarrada, sem criatividade, reprimida, transtornada, insegurança, pessoas que escolhem parceiros, empregos ou amizades que esgotam a energia, sofrendo por viver em desacordo com os próprios ciclos, superprotetora de si mesma, inerte, vacilante, incapaz de regular a própria marcha ou de fixar limites. Viver preocupada com a opinião alheia, afastar-se do seu Deus, isolamento, deixar-se envolver demasiadamente pela domesticidade, no intelectualismo, no trabalho ou na inércia. Recear aventurar-se, gostar de alguém ou dos oturos, medo de revidar quando não resta outra coisa a fazer, medo de experimentar o novo, ter medo de parar ou de agir, ter complexo de superioridade, ambivalência, etc... todas essas rupturas são uma doença não de um século, mas transformam-se em epidemia a qualquer hora ou lugar, onde as mulhres sintam-se aprisionadas, sempre que a natureza indomável tiver caído na armadilha."

"Todas nós temos anseio pelo que é selvagem. Existem poucos antídotos aceitos por nossa cultura para esse desejo ardente. Ensinaram-nos a ter vergonha desse tipo de aspiração. Deixamos crescer o cabelo e o usamos para esconder nossos sentimentos. No entanto, o espectro da Mulher Selvagem ainda nos espreita de dia e de noite. Não importa onde estejamos, a sombra que corre atrás de nós tem decididamente quatro patas."


Para quem se interessou, fica a dica.

Comentários

  1. Eu sempre fico com um pé atrás em se tratando de psiquiatras escritores. Ou são loucos, ou nos tornam um!

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