Dos sinais ?

Era mais uma daquelas noites em que a cama parecia bem maior que o normal. Eu ali, rolando de um lado pro outro, tentando disfarçar a sua ausência com luzes acessas e copos vazios. E por "acaso" eu me deparei com esse texto fenomenal de Fabrício Carpinejar. E o estranho fato disso ter acontecido me fez acreditar em sinais. Não que eu não acredite, mas de um tempo pra cá, tenho andado tão distraida e tão perdida de mim mesma que jamais seria capaz de reconhecer esses pequenos e iluminados "detalhes". Eis que este texto despencou feito uma bigorna (ACME Corporation ) em minha frente:


"O amor nunca morre de morte natural. Añais Nin estava certa. Morre porque o matamos ou o deixamos morrer. Morre envenenado pela angústia. Morre enforcado pelo abraço. Morre esfaqueado pelas costas. Morre eletrocutado pela sinceridade. Morre atropelado pela grosseria. Morre sufocado pela desavença. Mortes patéticas, cruéis, sem obituário e missa de sétimo dia. Mortes sem sangramento. Lavadas. Com os ossos e as lembranças deslocados. O amor não morre de velhice, em paz com a cama e com a fortuna dos dedos. Morre com um beijo dado sem ênfase. Um dia morno. Uma indiferença. Uma conversa surda. Morre porque queremos que morra. Decidimos que ele está morto. Facilitamos seu estremecimento. O amor não poderia morrer, ele não tem fim. Nós que criamos a despedida por não suportar sua longevidade. Por invejar que ele seja maior do que a nossa vida. O fim do amor não será suicídio. O amor é sempre homicídio. A boca estará estranhamente carregada. Repassei os olhos pelos meus namoros e casamentos. Permiti que o amor morresse. Eu o vi indo para o mar de noite e não socorri. Eu vi que ele poderia escorregar dos andares da memória e não apressei o corrimão. Não avisei o amor no primeiro sinal de fraqueza. No primeiro acidente. Aceitei que desmoronasse, não levantei as ruínas sobre o passado. Fui orgulhoso e não me arrependi. Meu orgulho não salvou ninguém. O orgulho não salva, o orgulho coleciona mortos. No mínimo, merecia ser incriminado por omissão. Mas talvez eu tenha matado meus amores. Seja um serial killer. Perigoso, silencioso, como todos os amantes, com aparência inofensiva de balconista. Fiz da dor uma alegria quando não restava alegria. Mato; não confesso e repito os rituais. Escondo o corpo dela em meu próprio corpo. Durmo suando frio e disfarço que foi um pesadelo. Desfaço as pistas e suspeitas assim que termino o relacionamento. Queimo o que fui. E recomeço, com a certeza de que não houve testemunhas. Mato porque não tolero o contraponto. A divergência. Mato porque ela conheceu meu lado escuro e estou envergonhado. Mato e mudo de personalidade, ao invés de conviver com minhas personalidades inacabadas e falhas. Mato porque aguardava o elogio e recebia de volta a verdade. O amor é perigoso para quem não resolveu seus problemas. O amor delata, o amor incomoda, o amor ofende, fala as coisas mais extraordinárias sem recuar. O amor é a boca suja. O amor repetirá na cozinha o que foi contado em segredo no quarto. O amor vai abrir o assoalho, o porão proibido, fazer faxina em sua casa. Colocar fora o que precisava, reintegrar ao armário o que temia rever. O amor é sempre assassinado. Para confiarmos a nossa vida para outra pessoa, devemos saber o que fizemos antes com ela."


Li mais de uma vez, e foi inevitável ser indiferente diante de tão cruel verdade. Inquieta com tudo isso e aproveitando o ócio das longas horas de insonia: resolvi tirar meu tarot. E olhem só quem resolveu aparecer : "Two of Cups".


Two of Cups

Como se não bastasse a "simples" presença deste arcano (falling in love), haviam leds fluorescentes piscando seu nome em todo lugar que olhava. Exagero? (...maybe... ^^)

Enfim, finalizo o post com uma frase que "encontrei" dias atrás:

"Os seres humanos querem a felicidade no amor mas não querem agir de uma forma que colabore com isso. Alguns querem um milagre. Outros só querem receber, mas não dão. Outros, simplesmente, não ligam... Deixam que a relação se desgaste até ficar tão fina, que um dia arrebenta. Depois reclamam que foram deixados, traídos... que não entendem o que aconteceu. Mas foi o que NÃO aconteceu."

Anotado?

* ao som de Sea of Love - Cat Power

Comentários

  1. Anotado e copiado sem direitos autorais.
    ah uma coisa...
    Você se esqueceu de citar o amor desprezado, não correspondido, humilhado e desolado, sim existe os que amam sem nada cobrar, mas quem quer esse amor verdadeiro?

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  2. Fato: quando algo nos incomoda é porque as coisas não estão bem.
    Outro fato: não podemos mentir para nós mesmo, enganamos os outros, mas não podemos enganar a nós mesmos.
    Levar a vida, um relacionamento, porque já se acostumou, por ser mais fácil, por preguiça de mudar, ter medo de ficar só, isso tudo pode facilitar o nosso comodismo, cuidado com a INÉRCIA!!

    Obs. este comentário foi baseado no texto postado.

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