O estranho que passava

Sabe aqueles dias em que você acorda atrasado, tropeça no chinelo que estava estrategicamente jogado no meio da sala, derrama leite com café (quente) na única camisa passada, pega todos os sinais fechados na ida para o trabalho, e como se não bastasse o dia segue nesse ritmo frenético de azar? Então, certa vez, acordei assim.

Tudo apontava para mais um dia de cão: calor infernal, trânsito engarrafado, relatórios atrasados, noticias ruins chegavam sem avisar e a única coisa que eu queria era que o dia terminasse...logo.

E naquele fim de tarde, eu estava no meu limite. E olha que não é sempre que eu aceito fazer tal afirmação.

Na volta para casa, depois de ter perdido a carona, o pesado fardo de um péssimo dia me arqueava as costas e entre passos descompassados eu pensei com meus botões: "Não falta acontecer mais nada!"

E então começou a pingar, a famosa chuva de verão. Enquanto algumas pessoas procuravam desesperadamente algum abrigo, eu... se quer me arrisquei a andar mais rápido, aquele maldito sapato que comprei na liquidação dilacerou os meus pés e o ato de andar já era um sacrifício imenso. Correr, estava fora de cogitação. Já que estava na chuva, que fosse para se molhar.


Depois da chuva, eu continuei a me arrastar cabisbaixa para casa, quando algo realmente me surpreendeu. Parei por um momento para contemplar sozinha a beleza daquele radiante arco íris que coloria o céu. E por alguns minutos, esqueci das dores, do cansaço, da roupa molhada, do fardo pesado e um sorriso tímido surgiu no canto da boca. Afinal, era ele!!! O estranho que passava!

Resolvi apelidar como "o estranho que passava" qualquer interação que me liberte da insensibilidade do dia a dia. Aquelas breves aparições que nos fazem esquecer, mesmo que seja por alguns instantes, a tempestade. Momentos mágicos que costumam quebrar o gelo da rotina cansativa dos dias, que nos mostram um esconderijo secreto e nos oferecem alguns minutos de repouso quando estamos no limite da situação.

Seria Deus e mais uma de suas artimanhas ou apenas um mero acaso???

"Para que nossos olhos tenham a alegria de ver o arco-íris, primeiro precisamos sobreviver à tempestade".