Do que é sujo
Não era tristeza, era agonia. Pontada latejante no peito, olhos estáticos, nó na garganta. Ardia por dentro como brasa quente em carne viva. Queimando-me a alma, tirando-me o ar, o
chão.
Sentia o peso de todo o firmamento sobre meus ombros e sabia que não adiantava fugir ou esconder-se. Era preciso coragem para me enfrentar, a parte obscura de ser.
Sentada frente ao passado, rasguei-me em pedaços minuciosamente retalhados para expor toda a sujeira e ferida ainda não cicatrizada, escondida embaixo da pele, das unhas, dos dias que se passaram. Acumulada atrás do olhar perdido em uma terça-feira nublada.
Sentada frente ao passado, rasguei-me em pedaços minuciosamente retalhados para expor toda a sujeira e ferida ainda não cicatrizada, escondida embaixo da pele, das unhas, dos dias que se passaram. Acumulada atrás do olhar perdido em uma terça-feira nublada.
Quem passava via apenas uma moça sentada,
tomando seu chá. Mas ali estava eu, dilacerada em mil pedaços, em decomposição de mim. A mercê da cura incondicional que só o tempo
traz.
Não é fácil despir-se de tudo que é belo para rastejar nos destroços de si
mesma. É perturbador! É engolir a força o amargo fel do arrependimento, do que se foi, do que partiu e não volta mais. Do que se fez. Das palavras lançadas na hora errada, dos atos insanos que agora refletiam
mágoas enraizadas. É cutucar a ferida e vê-la sangrar. Essa eterna dívida que carrego no peito, insiste
em me assombrar.
É mais fácil aceitar o traidor alheio, o bandido alheio. Acolhemos o erro alheio de braços abertos.
Entretanto, ainda não aprendi a me aceitar
errante. Não aprendi a olhar com ternura o que há de
mais rasteiro e sujo em mim. Talvez seja hora de começar a ser menos
dura com essa menina-mulher que dá tanto trabalho. De pegar no colo, oferecer-lhe uma xícara de chá de laranjeira e dizer que
amanhã será um novo dia, uma nova chance de ser.
Amanhã... página branca esperando ser
escrita.
Sarinha... quem afirma (ou acredita) que nunca errou (e nunca foi injusto, nunca foi mesquinho, etc) provavelmente está mentindo ou viveu isolado do mundo. É parte do aprendizado, inclusive admitir os erros (de julgamento, de ação, whatever); o que não dá é para carregá-los assim, ad eternum, como espinhos.
ResponderExcluirAcho que o erro existe para que a gente melhore, mude. Erram com a gente, aprendemos também. Cuide bem da sua 'menina complicada', dê um bom chá e conselhos para ela, mostre que ela é tão humana como qualquer outra pessoa.
bjão,
Ricardo.
Ric, como é bom encontrar seus conselhos aqui nos comentários deste blog abandonado. Saudades das nossas tardes regadas a chá de camomila e sembei...rs.
ResponderExcluirTake care !
Bjinhus