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Quando me roubam a alma

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🎵 Para ler ouvindo:  Sangre de Muerdago No caos da rotina que se arrasta, mergulho na tentativa de encontrar o pulso da vida nessa matrix arrebatadoura de algoritmos, memes e likes frenéticos. O caminho viciante às Ilhas das redes sociais é sempre tentador. Nada encontro, além da solidão de pessoas vazias, bots "humanizados" e o barulho intenso que ecoa desses abismos digitais. Sedenta, busco por qualquer fagulha de vida para além dos bits e pixels que me cercam, qualquer coisa que pudesse me roubar o sopro de vida, mesmo que por poucos segundos.  Aquela sensação de se sentir pequeno e grato, quando o divino te encara nos olhos, te despindo de tudo que é humano e te fazendo transcender. Gosto muito da etimologia da palavra "alma" na língua Guarani. Alma (ã / ánga) não é apenas o que anima o corpo, mas o elo entre o humano e o divino, entre a terra e o invisível. É o vento interno, o sopro que fala, o centro sensível do ser. Roubar a alma, é roubar o sopro que fala,...

Da dualidade de ser

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Não sei ao certo quando ela chegou Talvez às 5h de uma madrugada de verão Escancarou a porta do meu quarto e me convidou para bailar la vida... E com ela o perfume ficou mais doce, o riso mais alto e solto, os olhos mais brilhantes e os dias mais intensos. Uma mistura eufórica de suor, adrenalina e lampejos de caos. Ela tem essa inquietude no andar, de quem desbrava o mundo com a coragem e a certeza do quê se quer. E ela desfila sobre a minha lucidez em tons de dourado e com a boca pintada de vermelho sussurra em meus ouvidos "stay wild"... Sua presença é embriaguez, que não se contenta esvaziando copos mas possuindo corpos em combustão, incendiando desejos. Dança descompassada na beira do abismo e me puxa pela mão. Me atravessa o peito quando me fita com seus olhos de serpente... Por que não? Me tira o sono, a razão. Me acelera o pensamento, o coração. Em segundos milhões de planos, um turbilhão de emoção. E quando ela me toca, meu corpo transcende. Cada célula conhece a doç...

Sobre roda gigante, dança e vida

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Sobre roda gigante, dança e vida... A vida segue o seu compasso, ora se arrasta pelos cantos empoeirados do passado, ora se projeta na ilusão de sonhos descabidos e ousados. Esse é o tempero agridoce da vida, que torna a existência uma experiencia única, roda gigante eternamente a girar. Quando estamos tomados pela euforia de ver o mundo pequeno sobre os pés suspensos balançando lá de cima, quando quase podemos tocar o céu, o riso é leve e solto. Tudo é perfeito. E sem nos darmos conta, a vida segue o seu ritmo instável e a roda torna a girar. Os pés que antes se balançavam entre sonhos e estrelas, agora tocam o chão. Luzes dispersas e barulho frenético. E é nesse momento, confuso e inquieto, que os sonhos parecem se distanciar. E quando já estamos frustrados o suficiente para desistir, Deus sabiamente faz a roda girar. E lá vamos nós, tocar o céu, brilhar com as estrelas. E com o tempo aprendemos a dançar, ora pisando em nuvens, ora pulando pedras pelo caminhar.  Certa vez m...

Sobre encontros e tempestades

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Tinha sido uma péssima semana, a mais desafiadora deste ano que ainda nem começou direito. Me arrastava pelos dias, entre lágrimas e sorrisos rasos de quem cicla com a lua e com as marés. Quem me conhece, entende bem essa oscilação. Tem dias em que a tempestade chega sorrateira escurecendo o céu e fazendo pesar todo o firmamento, e é nesses dias também que os mais belos milagres acontecem. É quando o divino me surpreende, se faz humano ou as vezes paisagem, música, bicho, flor. Seja lá o que for, está sempre me encantando com seus disfarces criativos e pontualmente me encontra quando eu estou há um passo de desabar. Saímos de casa cedo. Coloquei Emicida pra tocar no celular enquanto fechava o capacete da Luma e me equilibrava na bike. “Passarinhos...Soltos a voar dispostos. Achar um ninho”, ela cantava e me pedia pra repetir a mesma música várias vezes. Eu seguia pedalando na tentativa boba de fugir das batalhas daquele dia. Parei em uma das praças que tem aqui no bairro, uma que e...

Notas sobre ela

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Quando me encarei nessa foto, fiquei rindo sozinha. Olhando para ela percebi que eu tinha me transformando em uma das minhas personagens: Mercedes Ramón.  Para quem não a conhece, brinco dizendo que Mercedes é a faxineira que trabalha para mim. É a ela quem recorro quando preciso de energia para encarar aquela bagunça que se acumula pelos cantos da casa. Mercedes sabe que a lida de quem trabalha em casa é pesada mas nem por isso precisa ser um lamento.  Quando chega, prende o cabelo no alto para manter os fios longe do suor do pescoço, passa sem jeito um batom vermelho nos lábios feito menina quando rouba a maquiagem da mãe e por onde passa deixa um aroma com notas de alecrim e lavanda.  Mercedes diz que para mandar a sujeira embora é preciso dançar, movimentar a energia do corpo e também do lar. Mexe os quadris enquanto dança com a vassoura, relembra das noites de verão em Cochabamba quando dançava nos braços do seu amado. Me contou certa vez que ele a deixou, partiu sem...

Das tempestades e eternos recomeços

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Hoje faz 2 anos e meio que não escrevo nada. Está sendo difícil estar frente a frente com  meus antigos textos, relembrando quem eu sou. Meus textos, muitas vezes desabafo, são os  meus muitos “eus” que me fazem sentir viva. É nesse pequeno intervalo entre teclas inquietas  e pensamentos esvoaçantes que eu sinto pulsar, dentro de mim, uma inquietude que cria. Sempre me cobrei a tal força criativa, aquela que tanto vejo em minha irmã, que dá vida em  tudo que toca. Ela é maravilhosa! Pinta, desenha, cria. A veia da arte, sempre foi parte  daquela menina mulher que eu tanto admiro.  Mas, eis que hoje, talvez pela lua estar em  peixes, resolvi voltar a escrever. E escrever para mim, sempre foi como uma terapia. Sou eu  e a intimidadora tela em branco do notepad, aguardando ser preenchida com palavras que  transbordam quando o coração pulsa.  No entanto, depois de todo esse tempo, me perguntei por muitas vezes o porquê da min...

Sobre quinta-feira, júpiter e parafusos.

Não sei como se chama isso, deveria saber. Afinal, quando se sabe o nome das coisas, você sente um falso controle sobre ela. Pelo menos, é assim que funciona comigo. Não era tristeza, e definitivamente não era alegria. Era uma mistura de agonia com tédio e pitadas de desesperança, mas ao mesmo tempo, era também vontade de gritar, de se jogar, de mudar. Como definir? Seria a crise dos 30 me visitando? Talvez. Mas, isso já vem acontecendo há um bom tempo. Quinta-feira, como sempre introspectiva. Júpiter rege esse dia e por isso fica me cutucando pra me tirar da inércia, do vácuo. É sempre ele disfarçado de conselho, sussurrando no meu ouvido "torna-te quem tú és". Júpiter tem dessas coisas, de cobrar a evolução, o verdadeiro potencial e o controle de si mesmo. É ele novamente, me sacudindo pra vida.E eu só queria ficar aqui quietinha, sem nenhuma cobrança, nem pressão. Mas até quando fugir, fingir, se esconder?  OK, então vamos lá. Resolvi olhar aqui pra dentro e o...